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Oxalá

Orixá masculino, de origem Ioruba (nagô) bastante cultuado no Brasil, onde costuma ser considerado a divindade mais importante do panteão africano. Na África é cultuado com o nome de Obatalá. Quando porém os negros vieram para cá, como mão-de-obra escrava na agricultura, trouxeram consigo, além do nome do Orixá, uma outra forma de a ele se referirem, Orixalá, que significa, orixá dos orixás. Numa versão contraída, o nome que se acabou popularizando, é OXALÁ.

 

Em África, todos os Orixás relacionados com a criação são designados pelo nome genérico de Orixá Fun Fun. O mais importante entre todos eles chama-se Orixalá (Òrìsanlà), ou seja, o grande Orixá, que nas terras de Igbó e Ifé é cultuado como Obatalá, rei do pano branco. Eram cerca de 154 Orixás Fun Fun, mas no Brasil e na Europa a quantidade reduz-se significativamente, sendo que dois, Orixá Olùfón, rei de Ifón (Oxalufã) e Orixá Ógìyán, o comedor de inhame e rei de Egigbó (Oxaguiã), se tornaram as suas expressões mais conhecidas.

 

Oxalá é o detentor do poder procriador masculino. Todas as suas representações incluem o branco. É um elemento fundamental dos primórdios, massa de ar e massa de água, a protoforma e a formação de todo o tipo de criaturas no AIYE e no ORUN. Ao incorporar-se, assume duas formas: OXAGUIÃ jovem guerreiro, e OXALUFÃ, velho apoiado num bastão de prata (APAXORÓ). OXALÁ é alheio a toda a violência, disputas, brigas, gosta de ordem, da limpeza, da pureza. A sua cor é o branco e o seu dia é a sexta-feira. Os seus filhos devem vestir branco neste dia. Pertencem a OXALÁ os metais e outras substâncias brancas.

 

No Candomblé, Apresenta-se de duas maneiras: moço – chamado Oxaguiam, e velho – chamado Oxalufam. O símbolo do primeiro é uma idá (espada), o do segundo é uma espécie de cajado em metal, chamado ôpá xôrô. A cor de Oxaguiam é o branco levemente mesclado com azul, do de Oxalufam é somente branco. O dia consagrado para ambos é a sexta-feira. Oxalá é considerado e cultuado como o maior e mais respeitado de todos os Orixás do Panteão Africano. É calmo, sereno, pacificador, é o criador, portanto respeitado por todos os Orixás e todas as nações.

 

Todas as histórias que relatam a criação do mundo passam necessariamente por Oxalá, que foi o primeiro Orixá concebido por Olodumaré e encarregado de criar não só o universo, como todos os seres, todas as coisas que existiriam no mundo.A maior interdição de Oxalá é de facto o azeite-de-dendê, que jamais deve macular as suas roupas, os seus objectos sagrados e muito menos o seu Alá. A única coisa vermelha que Oxalá permite, é a pena de Ikodidè, prova de sua submissão ao poder genitor feminino.

 

O Alá representa a própria criação, está intimamente relacionado com a concepção de cada ser; é a síntese do poder criador masculino. A sua função primeira já remete ao seu significado profundo. A acção de cobrir não evoca somente protecção, zelo, denota a actividade masculina no acto sexual.

 

No Xirê, Oxalá é homenageado por último porque é o grande símbolo da síntese de todas as origens. Ele representa a totalidade, o único Orixá que, como Exú, reside em todos os seres humanos. Todos são seus filhos, todos são irmãos, já que a humanidade vive sob o mesmo teto, o grande Alá que nos cobre e protege, o céu.

 

Dia: Sexta-feira

Cor: Branco leitoso.

Simbolo: Opáxoró

Elementos: Atmosfera e Céu

Domínios: Poder procriador masculino, Criação, Vida e Morte

Saudação: Epa Bàbá

 

Arquétipos: Os filhos de Oxalá, são pessoas tranqüilas, com tendência à calma, até nos momentos mais difíceis; conseguem o respeito mesmo sem que se esforcem objetivamente para obtê-lo. São amáveis e pensativos, mas nunca de maneira subserviente. Às vezes chegam a ser autoritários, mas isso acontece com os que têm Orixás guerreiros ou autoritários como adjutores (ajuntós).

 

São muito dedicados, caprichosos, mantendo tudo sempre bonito, limpo, com beleza e carinho. Respeitam a todos mas exigem ser respeitados. Sabem argumentar bem, tendo uma queda para trabalhos que impliquem em organização. Gostam de centralizar tudo em torno de si mesmos. São reservados, mas raramente orgulhosos. Seu defeito mais comum é a teimosia, principalmente quando têm certeza de suas convicções; será difícil convencê-los de que estão errados ou que existem outros caminhos para a resolução de um problema.

 

Para Oxalá, a ideia e o verbo são sempre mais importantes que a ação, não sendo raro encontrá-los em carreiras onde a linguagem (escrita ou falada) seja o ponto fundamental. Fisicamente, os filhos de Oxalá tendem a apresentar um porte majestoso ou no mínimo digno, principalmente na maneira de andar e não na constituição física; não é alto e magro como o filho de Ogum nem tão compacto e forte como os filhos de Xangô.

 

Às vezes, porém, essa maneira de caminhar e se postar dá lugar a alguém com tendência a ficar curvado, como se o peso de toda uma longa vida caísse sobre seus ombros, mesmo em se tratando de alguém muito jovem. Para que o filho de Oxalá tenha uma vida melhor, deve procurar despertar em seu interior a alegria pelas coisas que o cerca e tentar ceder à sua natural teimosia. 

 

No Oxalá mais velho (OXALUFÃ) a tendência se traduz em ranzinzice e intolerância, enquanto no Oxalá novo (OXAGUIÃ) tem um certo furor pelo debate e pela argumentação.

 

O tipo físico de OXALUFÃ é frágil, delicado, friorento, sujeito-a resfriados. Compensa sua debilidade física com grande força moral, e seu alvo à realizar a condição humana no que tem de mais nobre. É fiel no amor e na amizade. Oxalufã é o poente.

 

O tipo OXAGUIÃ é um jovem guerreiro combativo. Normalmente tem boa aparência, podem ser altos, baixos, forte e magros, pois seu arquetipo não o traduz, não é agressivo nem brutal, teimosos, individualistas e altruístas. Não despreza o sexo e cultiva o amor livre. É alegre, gosta profundamente da vida, é falador, brincalhão e ao mesmo tempo teem muita seriedade e não perdoam a Injustiça. Ao mesmo tempo é idealista, defendendo os injustiçados, os fracos e os oprimidos. Orgulhosos, gostam da boa briga pela boa causa, às vezes, uma espécie de D. Quixote. Os seus pensamentos originais geralmente antecipam os da sua época. Ele é o nascente e o dono das manhãs.

Itans/lendas:

 

Aguas de Oxalá

Aproximava-se o dia em que seria realizado no reino de Oyó, a época das comemorações em homenagem a Xangô, Rei de Oyó, onde todos os Orixás foram convidados, inclusive Oxalufã. Antes de rumar a Oyó, Oxalufã consultou seu babalawo a fins de saber como seria a jornada, o babalawo lhe disse: leve três mudas de roupas brancas, pois Exú irá dificultar seus caminhos. E Oxalufã partiu sozinho. O adivinho aconselhou-o então a levar consigo três panos brancos, limo-da-costa e sabãoda-costa, assim como a aceitar e fazer tudo que lhe pedissem no caminho e não reclamar de nada, acontecesse o que acontecesse. Seria uma forma de não perder a vida. Caminhando pela mata encontrou Exú tentando levantar um tonel de Dendê as costa e pediu-lhe ajuda, Oxalufã prontamente lhe ajudou mas Exú, propositalmente derramou o dendê sobre Oxalufã e saiu.

 

Oxalufã banhou-se no rio, trocou de roupa e continuou sua jornada. Mas adiante encontrou-se novamente com Exú, que desta vez tentava erguer um saco de carvão a costas e pediu a Oxalufã que lhe auxiliasse, novamente Oxalufã lhe ajudou e Exú repetiu o feito derramando o carvão sobre Oxalufã, banhando-se no rio e trocando de roupa, Oxalufã prosseguiu sua jornada a Oyó, próximo já a Oyó, encontrou com Exú novamente tentado erguer um tonel de melado e a estória se repetiu. Nos campos de Oyó, Oxalufã encontrou com um cavalo fugitivo dos estábulos de Xangô, e resolveu devolver ao dono, antes de chegar a cidade, foi abordado pelos guardas que julgaram-no culpado pelo furto.

 

Maltrataram e prenderam Oxalufã. Ele, sempre calado, deixou-se levar prisioneiro. Mas, por estar um inocente no cárcere, em terras do Senhor da Justiça, Oyó viveu por longos sete anos a mais profunda seca. As mulheres tornaram-se estéreis e muitas doenças assolaram o reino. Desesperado Xangô resolveu consultar um babalawô para saber o que acontecia e o babalawô lhe disse: a vida está aprisionada em seus calabouços, um velho sofria injustamente como prisioneiro, pagando por um crime que não cometera.

 

Com essa resposta, Xangô foi até a prisão e lá encontrou Oxalufã todo sujo e mal tratado. Imediatamente o levou ao palácio e lá chamou todos os Orixás onde cada um carregava um pote com água da mina. Um a um os Orixás iam derrubando suas águas em Oxalufã para lavá-lo. O rei de Oyó mandou seus súditos vestirem-se de branco. E que todos permanecessem em silêncio. Pois era preciso, respeitosamente, pedir perdão a Oxalufã. Xangô vestiu-se também de branco e nas suas costas carregou o velho rei. E o levou para as festas em sua homenagem e todo o povo saudava Oxalufã e todo o povo saudava Xangô. 

 

Como Oxalá Aprendeu a Produzir a Cor Branca

 

Certa vez, quando os orixás estavam reunidos, oxalá deu um tapa em exu e o jogou no chão todo machucado; mas no mesmo instante exu se levantou, já curado. Então oxalá bateu em sua cabeça e exu ficou anão; mas se sacudiu e voltou ao normal. Depois oxalá sacudiu a cabeça de exu e ela ficou enorme; mas exu esfregou a cabeça com as mãos e ela ficou normal. A luta continuou, até que exu tirou da própria cabeça uma cabacinha; dela saiu uma fumaça branca que tirou as cores de oxalá. oxalá se esfregou, como exu fizera, mas não voltou ao normal; então, tirou da cabeça o próprio axé e soprou-o sobre exu, que ficou dócil e lhe entregou a cabaça, que oxalá usa para fazer os brancos. 

 

Oxalá cria a galinha d'angola e espanta a Morte

 

Há muito tempo, a Morte instalou-se numa cidade e dali não quis mais ir embora. A mortandade que ela provocava era sem tamanho e todas as pessoas do lugar estavam apavoradas, a cada instante tombava mais um morto.Para a Morte não fazia diferença alguma se o defunto fosse homem ou mulher, se o falecido fosse velho, adulto ou criança. A população, desesperada e impotente, recorreu a Oxalá, rogando-lhe que ajudasse o povo daquela infeliz cidade.Oxalá, então, mandou que fizessem oferendas, que ofertassem uma galinha preta e o pó de giz efum, fizeram tudo como ordenava Oxalá. Com o efum pintaram as pontas das penas da galinha preta e em seguida a soltaram no mercado.Quando a Morte viu aquele estranho bicho, assustou-se e imediatamente foi-se embora, deixando em paz o povo daquela cidade. Foi assim que Oxalá fez surgir a galinha d'angola. Desde então, as iaôs, sacerdotisas dos orixás, são pintadas como ela para que todos se lembrem da sabedoria de Oxalá e da sua compaixãoLenda tirada do livroMitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - 200

 

Oxaguiã manda libertar o amigo preso injustamente

 

O filho de Oxalá tornou-se um guerreiro forte e decidiu um dia conquistar um reino para si. Partiu em companhia de seu amigo Auoledjê, conquistou Ejigbô, tornando-se seu rei, o Elejigbô. O rei tinha uma grande paixão, comer inhame pilado, e comia com gula, tanto que o chamavam Oxaguiã, que quer dizer "Oxalá Comedor de Inhame Pilado". Um dia Auoledjê, que era grande babalaô, precisou partir de Ejigbô, antes disso, aconselhou Oxaguiã que fizesse oferendas, que tornariam o reino próspero. Assim, como previa Auoledjê, Ejigbô tornou-se uma grande cidade, rica e bem guardada pelos bravos soldados de Oxaguiã. O rei Elejigbô vivia em fausto entre seus súditos, por quem era chamado de "Kabiyesi", que é o mesmo que Sua Majestade.

 

Na intimidade os amigos o chamavam de "Comedor de Inhame Pilado", mas em público isso era uma heresia. anos mais tarde, Auoledjê retornou a Ejigbô. ao adentrar a cidade, procurou logo por oxaguiã, "Onde está o Comedor de Inhame Pilado?", perguntou, os soldados, que não o conheciam, ficaram furiosos com tamanha insolência. Isso era jeito de se referir ao rei? Prenderam e maltrataram o desconhecido amigo de Kabiyesi, Auoledjê ressentiu-se da humilhação, com seus poderes mágicos, vingou-se. Durante sete anos todas as catástrofes conhecidas, e não faltando a seca, assolaram o reino de Oxaguiã

 

.Oxaguiã, desesperado, procurou os adivinhos, e pelo oráculo eles viram a prisão de Auoledjê, um amigo de rei estava preso injustamente. Oxaguiã correu para prisão para libertar o velho amigo. Oxaguiã libertou-o, mas ainda ressentido, escondeu-se na mata. Elejigbô buscou o velho amigo, suplicando seu perdão, Auoledjê cedeu com uma condição: que nuca aquele povo se esquecesse dessa injustiça. Todos os anos o povo deveria flagelar-se, em memória do funesto acontecido. Assim, todos os anos, o rei deveria mandar pessoas à floresta cortar varetas. Os súditos, divididos em dois grupos, tomariam as varas, simulariam golpes uns nos outros, sem parar, até que as varetas se quebrassem, para que nunca se esquecessem daquela injustiça praticada contra o amigo de Oxaguiã.

 

Assim foi feito e o reino de Oxaguiã voltou à tranquilidade e Oxaguiã foi o maior dos reis de Ejigbô. Quando ele foi para o Orum, transformado em orixá, seu culto não se esqueceu do velho amigo babalaô, coma as varetas de Oxaguiã, com atoris, seus adeptos renovam sempre a memória da injustiça, para que ela não volte a acontecer.(in Reginaldo Prandi, 2001)

 

 

Oxaguiã inventa o pilão

 

Oxalá, rei de Ejigbô, vivia em guerra, ele tinha muitos nomes, uns o chamavam de Elemoxó, outros de Ajagunã, ou ainda Aquinjolê, filho de Oguiriniã. Gostava de guerrear e de comer, gostava muito de uma mesa farta, comia caracóis, canjica, pombos brancos, mas gostava mais de inhame amassado, jamais se sentava para comer se faltasse inhame. Seus jantares se estavam sempre atrasados, pois era muito demorado preparar o inhame, Elejigbô, o rei de Ejibô, estava assim sempre faminto, sempre castigando as cozinheiras, sempre chegando tarde para fazer a guerra.Oxalá então consultou os babalaôs, fez oferendas a Exu e trouxe para humanidade uma nova invenção. O rei de Ejigbô inventou o pilão e com o pilão ficou mais fácil preparar o inhame e Elejigbô pôde se fartar e fazer todas as suas guerras. Tão famoso ficou o rei por seu apetite pelo inhame que todos agora o chamam de "Orixá Comedor de Inhame Pilado", o mesmo que Oxaguiã na língua do lugar.(in Reginaldo Prandi, 2001)

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