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Orixás 

 

Candomblé é uma religião monoteísta, embora alguns defendam que cultuem vários deuses, o deus único para a Nação Ketu é Olorum, para a Nação Bantu é Zambi e para a Nação Jeje é Mawu. Os Orixás em Yoruba foram criados por um deus supremo, Olorun (Olorum) dos Yoruba; os Voduns em Fon ou  Ewe, foram criados por Mawu, o deus supremo dos Fon; os Inquices dos Bantus, foram criados por Zambi, Zambiapongo, deus supremo e criador. O Candomblé cultua, entre todas as nações, umas cinquenta das centenas de deidades ainda cultuadas na África. Mas, na maioria dos terreiros das grandes cidades, são doze as mais cultuadas. O que acontece é que algumas divindades têm "qualidades", que podem ser cultuadas como um diferente Orisà/Inquisse/Vodun em um ou outro terreiro. Então, a lista de divindades das diferentes nações é grande, e muitos Orixás do Ketu podem ser "identificados" com os Voduns do Jejé e Inquices dos Bantu em suas características, mas na realidade não são os mesmos; seus cultos, rituais e toques são totalmente diferentes.

 

No Brasil, são cultuados apenas 12 ou 16 dos 406 conhecidos no território de origem. A Palavra Orixá denomina Divindades Africanas. A palavra Orixá denomina divindades africanas e que são conhecidas como aquelas divindades intermediárias entre o poder de Deus e dos seres humanos. Eles foram criados com a finalidade de ajudar o povo da terra em sua caminhada evolutiva. Essa é que é a finalidade essencial dos Orixás e cada um deles representam forças da natureza. O que são essas forças da natureza?

 

São elementos que possibilitam a existência das pessoas na terra: uma planta, a agricultura, a água, o fogo, a vida, a saúde, a morte, tudo isso representa forças que a natureza oferece aos seres humanos e o africano denominou cada uma dessas forças com uma denominação: Xangô, Iemanjá, Iansã, Oxumarê, Oxum, Ossaim e assim por diante.Contam as histórias que os Orixás tiveram vidas passadas, isso é verdade?

 

Os estudos sobre os Orixás, não podem fugir da seguinte conotação, nós precisamos estudá-los religiosamente. mitologicamente e politicamente, porque muitas divindades desistiram de viver na terra. No passado o povo africano, no interior daquelas selvas, sempre existia algum personagem, que se sobressaía com poderes naturais com certas percepções que os tornaram verdadeiros heróis, fundadores de cidades, grandes guerreiros, e essas pessoas, elas mereceram culto por parte daquele povo há 100, 500 anos atrás e era dessa forma que eles exerciam o princípio de culto a esses personagens. Personagens esses que tinham nome, tinham história.

 

Alguns Orixás viveram na terra, isto nos é revelado através de certos mitos que existem e que contam as histórias dos Orixás; as suas atividades guerreiras, as atividades amorosas e outras tantas, porque existem lendas e mitos e todo mito tem um fundo político, um fundo verdadeiro no mundo histórico e a lenda não é um folclore criado. O rei de Oió, da terra de Xangô, ele é visto como descendente direto de Xangô. Todos os reis da cidade de Oió são vistos como descendentes direto de Xangô, daí verificamos que existe uma coisa interessante pois na África existe o culto ao Orixá familiar. Muitas pessoas daquelas famílias são feitas para aquele Orixá tutelar da família, então eles são vistos como personagens ligados, identificados com a família.Esta questão de dizer que Orixá teve vida terrena e foi um egum é muito difícil falar isso, mas muita coisa revela isso exatamente e podemos verificar também que muitas tribos africanas criaram os seus heróis, os seus ancestrais divinizados e por que?

 

Porque existem cidades que Xangô é muito conhecido, mas tem outras cidades que Xangô não é conhecido, ou ele é conhecido por outros nomes, e assim Iemanjá, e assim é Oxum e assim foram com outros Orixás. Hoje com a divulgação literária, a coisa se confundiu um pouco, mas no início era exatamente assim, tinha cidade que não conhecia determinado Orixá. Existem palavras que para traduzir-se é muito difícil, já que se perdeu a sua essência de tradução. Muitos estudiosos acham que a palavra Ori - xá; significa obrigação na cabeça, só que a palavra Orixá, ela tem uma acentuação que não é idêntica para Ori e a palavra Xa não tem a ver com obrigação.

 

Agora existe um outro estudo que acha que a palavra Orixá vem de Orixê, ou seja, a essência do Ori, ou que seja todos os Orixás produziram aquilo que nós temos na nossa cabeça que é o Ori, então as outras interpretações, são interpretações pessoais, mas fazem realmente ao princípio de encontrar uma coisa verdadeira, então a palavra Orixá é muito difícil de traduzir em toda a sua essência.

A partir da Constituição Federal Brasileira de 1988 e da Lei nº 10.639, de 2003, que estabeleceu as recomendações para a inserção da temática afro-brasileira nos currículos do ensino fundamental, médio e superior, acrescentou à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) dois artigos: 26-A e 79-B. O primeiro estabelece o ensino sobre cultura e história afro-brasileiras e especifica que o ensino deve privilegiar o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional.

 

O mesmo artigo ainda determina que tais conteúdos devam ser ministrados dentro do currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística, literatura e história brasileira. Já o artigo 79-B inclui no calendário escolar o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. Pelas diretrizes estabelecidas na referida Lei, as escolas das redes pública e privada de educação básica deveriam ensinar aos alunos conteúdos relacionados à história e à cultura afro-brasileiras. Apesar disso, a maioria dos alunos ainda não conhece a contribuição histórico-social dos descendentes de africanos ao país. “A lei não foi implementada de maneira a abarcar todos os alunos e professores. O que existem são ações pontuais de iniciativa de movimentos negros, do MEC ou de universidades federais”

 

Assim, ao estudo de Língua Portuguesa e Literatura nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, propõe-se o desafio de valorizar a cosmovisão e a identidade negra. O trabalho com mitologia afro-brasileira torna-se, pois, mister para a prevenção do racismo e a intolerância.

 

Trabalhar com mitos dos orixás, mitos afro-brasileiros em aulas de literatura, é um caminho viável para questionar preconceitos e representações estereotipadas, resgatando e valorizando auto-estima e cultura negra. Há, pois, uma série de textos para os quais nossos educandos podem ser apresentados, a saber, Por que Oxalá usa ikodidé (SANTOS, 1997), A criação da Terra e Como surgiu a consulta a Ifá (in Beniste); Iemanjá ajuda Olodumaré na criação do mundo (VALLADO, 2002: 18), Como ìyàmi chegou ao mundo em Otá (VERGER, 1992, 38-40).

Constituído pela maioria católica, o povo brasileiro parece conservar certo ranço quando o assunto é diversidade religiosa. O problema com a intolerância vem de longe. Basta um olhar sobre a história das religiões brasileiras para percebermos a marginalização das que são minoria. Os estudos sobre o assunto demonstram que o candomblé foi silenciado no Brasil em diferentes momentos históricos: primeiro pela religião oficial (o catolicismo) e pelo Estado no período colonial brasileiro; segundo, pelo Estado ditatorial no Governo de Getúlio Vargas; terceiro, na segunda metade do século XX, pela ditadura militar que imperou de 1964 a 1985. Em uma época em que a maioria era católica. A mediunidade era considerada uma loucura, assim sendo várias pessoas passaram por tratamentos horrorosos, foram hospitalizados com tratamentos a base de fortes choques elétricos e remédios.

 

Desse modo, as organizações das comunidades religiosas de matriz africana e as produções intelectuais sobre as mesmas só irão obter liberdade de expressão a partir do fim desses sistemas políticos ditatoriais e com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Por ter sido muito perseguido e como é transmitido oralmente, com a morte dos antigos sábios, os saberes relativos aos rituais foram reapropriados e (re)inventados pelas gerações sucessoras que dão continuidade a esse fenômeno religioso.

 

O ano era demarcado pela repetição das estações e eles não conheciam sua divisão em meses.O sincretismo no Candomblé ou na Umbanda não é, como se pensa, uma simples tábua de correspondência entre orixás e santos católicos, assim como não representava o simples disfarce católico que os negros davam ao seus orixás para poder cultuá-los livres da intransigência do senhor branco, como de modo simplista se ensina nas escolas até hoje. Segundo Verger, na realidade, não desconfiavam que o que eles cantavam, no decorrer de tais reuniões, eram preces e louvações a seus orixás, a seus vodun, a seus inkissi. Quando precisam justificar o sentido dos seus cantos, os escravos declaravam que louvavam, nas suas línguas, os santos do paraíso. Na verdade, o que eles pediam era ajuda e proteção aos seus próprios deuses.

 

O sincretismo representa a captura da religião dos orixás dentro de um modelo que pressupõe, antes de qualquer coisa, a existência de dois polos antagônicos que presidem todas as ações humanas: o bem e o mal; de um lado a virtude, do outro o pecado. Essa concepção, que é judaico-cristã, não existia na África.

 

Antes da imposição do calendário europeu, os iorubás, que são a fonte principal da matriz cultural do candomblé brasileiro (Prandi, 2000b), organizavam o presente numa semana de quatro dias. Os afro-descendentes assimilaram o calendário e a contagem de tempo usados na sociedade brasileira, mas muitas reminiscências da concepção africana podem ser encontradas no cotidiano dos candomblés. A chegada de um novo odum, ano novo, é festejada com ritos oraculares para se saber qual orixá o preside, pois cada ano vê repetir-se a saga do orixá que o comanda: será um ano de guerra, se o orixá for um guerreiro, como Ogum, de fartura, se o orixá for um provedor, como Oxóssi, será de reconciliações, se for de um orixá da temperança, como Iemanjá, e assim por diante.

 

O ossé, a semana, constituiu-se num rito semanal de limpeza e troca das águas dos altares dos orixás. Cada dia da semana, agora a semana de sete dias, é dedicado a um ou mais orixás, sendo cada dia propício a eventos narrados pelos mitos daqueles orixás, por exemplo, a quarta-feira é dia de justiça porque é dia de Xangô. As grandes festas dos deuses africanos adaptaram-se ao calendário festivo do catolicismo por força do sincretismo que, até bem pouco tempo, era praticamente compulsório, mas o que a festa do terreiro enfatiza é o mito africano, do orixá, e não o do santo católico.

Nações do Candomblé

A palavra nação é usada no candomblé para distinguir seus segmentos, diferenciados pelo dialeto utilizado nos rituais, o toque dos atabaques, a liturgia. A nação também indica a procedência dos escravos que lhe deram origem na nova terra e das divindades por eles cultuadas.

 

A escravidão dividiu as sociedades africanas em todos os sentidos. O africano, com o fim das linhagens, dos clãs, das aldeias, da realeza, se apegou ainda mais aos seus deuses e ritos, uma vez que foi a única coisa que restou de suas regiões de origem.

 

O Candomblé no Brasil surgiu através da diáspora negra, ou seja, com tráfico de escravos negros oriundos de diversas cidades Africanas. O candomblé como conhecemos hoje no Brasil não existe em outros países, pois devido a união de diversos escravos de diferentes regiões numa mesma senzala criou-se miscigenação de fundamentos dando origem ao nosso Candomblé. No Brasil uma roça de candomblé cultua vários orixás. Na África cada região cultua um determinado orixá, ou seja, cada região africana cultua um orixá e só inicia elegun ou pessoa daquele orixá.

 

Hoje, A palavra Candomblé possui 2 (dois) significados entre os pesquisadores: Candomblé seria uma modificação fonética de “Candonbé”, um tipo de atabaque usado pelos negros de Angola; ou ainda, viria de “Candonbidé”, que quer dizer “ato de louvar, pedir por alguém ou por alguma coisa”. A palavra Candomblé define, no Brasil, o que chamamos de culto afro-brasileiro, ou seja: “Uma Cultura Africana em Solo Brasileiro”. A palavra Candomblé também é usada para definir o modelo de cada tribo ou região africana.

 

Esses textos podem ser abordados pelo professor de diversos modos: estudos de literatura oral e sua importância para a manutenção/preservação da cultura afro-brasileira;  poesia e figuras de linguagem;  conto e estrutura da narrativa; recital e teatro; intertextualidade; escritura/reescritura.

Projetos interdisciplinares que discutam a questão racial brasileira, a importância do resgate da memória ancestral, estereótipos e preconceitos atribuídos ao grupo negro também podem ser realizados, partindo-se dos mitos negros.

Segundo o professor Eduardo de Assis Duarte, coordenador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). a não adequação à lei está relacionada, basicamente, a três fatores: despreparo e desconhecimento dos professores com relação ao tema; pouco material de estudos produzido sobre a história e cultura dos afro-brasileiros no Brasil; preconceito de algumas instituições.

 

"Quando a escola quer fazer, ela faz, inventa formas de suprir as carências".

Segundo Prandi, “O candomblé iorubá, ou jeje-nagô, como costuma ser designado, congregou, desde o início, aspectos culturais originários de diferentes cidades iorubanas, originando-se aqui diferentes ritos, ou nações de candomblé, predominando em cada nação tradições das cidades ou região que acabou lhe emprestando o nome: queto, ijexá, efã. Esse candomblé baiano, que proliferou por todo o Brasil, tem sua contrapartida em Pernambuco, onde é denominado Xangô, sendo a nação Egba sua principal manifestação, e no Rio Grande do Sul, onde é chamado batuque, com sua nação Oió-Ijexá. Outra variante iorubá está fortemente influenciada pela religião dos voduns daomeanos, é o tambor de mina-nagô do Maranhão.

 

Além dos candomblés iorubás, há os de origem banto, especialmente os denominados candomblés angola e congo, e aqueles de origem marcadamente fon, como o jejemahim baiano e o jeje-daomeano do tambor de mina maranhense".

 

Dessa forma, para compreender o processo de formação das identidades afro-brasileiras das comunidades de terreiro, é fundamental recorrer ao emprego que fazem de expressões como Angola, Jeje e Ketu para se diferenciarem entre si, sobretudo porque todos esses termos remetem a uma origem ou a um passado africano, mesmo que a uma África imaginada. As casas de candomblé são classificadas de acordo com essa origem, e seus rituais, crenças e culto às suas divindades diferem de um grupo para o outro, considerando que existem traços comuns entre as nações.

Orixá Xangô na África (Nigéria).

OMenininha do Gantois 1902

Influência de costumes islâmicos no Candomblé

 

Sempre vemos as afirmações de estudiosos dos cultos afro-brasileiros sobre a influência do catolicismo popular no estabelecimento das Religiões e Cultos Afro-brasileiros, no entanto poucos falam sobre a influência que alguns muçulmanos tiveram no estabelecimento destas Religiões e Cultos. Pouco se fala sobre os malês (negros muçulmanos escravizados) e a revolução que realizaram na Bahia. 

 

Com a necessidade de mão-de-obra para mover os engenhos e fazer funcionar a dinâmica urbana, foram importados indivíduos originários do chamado Sudão Central, atual noroeste da Nigéria. Letrados na língua árabe e com hábitos e costumes que os separavam dos demais escravos, foram os principais responsáveis pela Rebelião Malê de 1835, o mais sério levante de escravos urbanos visto em todo país. 

 

Que fique bem claro: os negros nascidos no Brasil, e por isso chamados crioulos, não participaram da revolta, que foi feita exclusivamente por africanos. Por isso, se o levante tivesse sido um sucesso, a Bahia malê seria uma nação controlada pelos africanos, tendo à frente os muçulmanos. Os malês tiveram que fazer pontes estratégicas, em que negros africanos de diversas etnias e religiões se uniram para dar um basta à escravidão.

 

Os africanos islamizados que chegaram à Bahia nas primeiras três décadas do século XIX precisaram do apoio de adeptos de outras religiões para lutar contra o poderio escravista. Tanto na África quanto em “terra de branco”, o mundo islâmico deixava de ser fechado como uma ostra, e admitia conchavos com os Kafirs[não mulçumanos]. Mas o intercâmbio era alvo de polêmica, tanto que fomentou guerras entre nações no continente negro e mesmo desavenças entre escravos. Malês, o termo é de possível origem ioruba – uma corruptela de imále, que designa qualquer indivíduo de religião muçulmana, não podendo portanto ser considerado como nome de um povo ou grupo africano.

 

Aparentemente, a influência islâmica em Salvador poderia ser tida como reduzida, mas ninguém sabe ao certo até que ponto o candomblé e diversos fatores cotidianos são influenciados pela religião de origem árabe. O hábito de vestir-se de branco às sextas-feiras, a ênfase baiana branca de Oxalá (que pode se vestir de vermelho em Cuba, ou mesmo de preto, em algumas regiões da África), dentre outros aspectos culturais como a lavagem do Bomfim, são indícios de conexões locais entre a mensagem revelada ao profeta e tradicionais religiões africanas.

 

Especialmente as obras de Roger Bastide (in o Candomblé da Bahia) e José Beniste (in Òrún Àiyé), que afirmam que o sistema oracular de Ifá advém dos muçulmanos. Há autores que refutam essa idéia (Wándé Abímbólá, p. ex.) com os quais concordo, pois acredito que houve, sim, uma simbiose entre formas oraculares: o Darb ar-Raml (árabe) e o Opele (Yorùbá), unindo as duas formas de geomancia (adivinhação através das figuras formadas por um punhado de terra que se atira ao acaso sobre o chão ou qualquer outra superfície).

 

Muitos costumes muçulmanos passaram a fazer parte do culto afro-brasileiro. O uso do turbante por homens e mulheres é um dos mais visíveis. Foi introduzido pelos muçulmanos na África, que desconheciam essa indumentária. Para os muçulmanos a sexta-feira é um dia para se rezar em congregação, assim como o sábado para os judeus e o domingo para os cristãos.

 

A ideia islâmica de pureza ritual (tahara), sem a qual não se pode orar ou mesmo tocar o Qur’na (Alcorão), marcava o uso das vestes brancas. Chamadas abadá, do iorubá agbda, tratavam-se de uma espécie de camisolão comprido, habitualmente feito de pano-da-costa. Usavam os famosos amuletos malês, considerados de grande poder protetor, e provavelmente recorriam a adivinhos malês, entre outras práticas. Contudo, a convivência entre os islâmicos e devotos de religiões tradicionais africanas nem sempre foi amistosa.

 

Infelizmente o Brasil é uma país cujos habitantes não apreciam muito o estudo da história. Pouco se fala sobre os malês (negros muçulmanos escravizados) e a revolução que realizaram na Bahia. Não se fala sobre a influência que os cultos afro-brasileiros sofreram deles.

 

“Nós não estaremos sozinhos [...] quis dizer meus ancestrais, vou evocá-los do passado e do início dos tempos e implorar que venham me ajudar, no julgamento, eu vou incorporar a força deles e eles virão, porque nesse momento sou a única razão por eles terem existido” (Sinqué, Filme Amistad, 1997).

Um babalaô me contou:

"Antigamente, os orixás eram homens. 
Homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes. 
Homens que se tornaram orixás por causa de sua sabedoria. 
Eles eram respeitados por causa de sua força, 
Eles eram venerados por causa de suas virtudes. 
Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram. 
Foi assim que estes homens tornaram-se orixás. 
Os homens eram numerosos sobre a Terra. 
Antigamente, como hoje, 
Muitos deles não eram valentes nem sábios. 
A memória destes não se perpetuou 
Eles foram completamente esquecidos; 
Não se tornaram orixás. 
Em cada vila, um culto se estabeleceu 
Sobre a lembrança de um ancestral de prestígio 
E lendas foram transmitidas de geração em geração para
render-lhes homenagem".

Lendas Africanas dos Orixás,
Pierre Verger

Fontes

LIMA, Vivaldo da Costa.”Nações de Candomblé”. In: Encontro de Nações de Candomblé. Salvador, Ianamá/Ceao/UFBA, 1984.

PRANDI, R. “Raça e religião”.In: Prandi, R. Herdeiras do axé: Sociologia das religiões afro-brasileiras. São Paulo: Hucitec,1996. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

VERGER, Pierre. Orixás. São Paulo, Corrupio, 1981

BATISTA M. X. ANGOLA, JEJE E KETU Memórias e identidades em casas e nações de candomblé na Região Metropolitana da Grande Vitória (ES).Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Humanas e Naturais.2014.

REIS, João Jose. Rebelião Escrava no Brasil; a historia do levante dos males em 1835. Edição Revista e Ampliada. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
Jefferson Gomes NogueiraSincretismo religioso no Brasil em Casa Grande & Senzala: Influências na religiosidade brasileira

 

 

As diferenças entre Candomblé, Umbanda e Macumba

 

Macumba é uma espécie de árvore africana e também um instrumento musical utilizado em cerimônias de religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda. É comum as religiões afro-brasileiras serem tratadas todas como “macumba”. O senso-comum reforça isso todos os dias. Talvez na tentativa de simplificar o conceito ou mesmo de não saber diferenciá-los, essas religiões ganham um sentido desagradável, sempre associado a práticas de desagrado, criando inclusive alguns termos pejorativos, como “chuta que é macumba”, “xô macumba”. A verdade é que há diferenças entre elas. É preciso desmistificá-las, fazê-las conhecidas.

 

Umbanda: é a única religião criada no Brasil, em 1917. Nascida a partir da mistura entre crenças e ritos europeus e africanos, a Umbanda nasceu no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, em Niterói. A religião acredita e prega que o universo está povoado de espíritos, chamados pelos praticantes de guias que entramem contato com as pessoas por intermédio de um médium, capaz de incorporá-los. Cada um dos 16 orixás - as entidades cultuadas na umbanda - corresponde a um ou mais santos católicos. Dá para explicar essa ligação contando um pouco da história do período colonial no Brasil. Naquela época, chegaram ao país os primeiros africanos que aportaram no Brasil como escravos e não podiam cultuar suas divindades livremente - você sabe, a religião oficial do país era (e é) o catolicismo.

 

Por causa dessa proibição, os escravos começaram a associar suas divindades com os santos católicos para exercerem sua fé disfarçadamente. Como os santos católicos são bem numerosos, existem divindades que são identificadas com mais de um santo. Por exemplo: Oxóssi, o rei da caça, é associado a São Jorge e a São Sebastião. "Essa relação com um ou outro santo depende da região do país, variando de acordo com a popularidade do santo no local", diz o sociólogo Reginaldo Prandi, autor do livro Mitologia dos Orixás.

 

No Candomblé os cânticos são em línguas africanas (Iorubá ou Banto), dependendo da nação de origem daquele grupo. Os cânticos da Umbanda são em português. No Candomblé o culto é voltado unicamente aos Orixás que são considerados deuses e não espíritos. Na Umbanda trabalham com espíritos como caboclos, pretos-velhos e ciganos, entre outros. 

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Por que existe hoje no Brasil tanta intolerância religiosa? 

 

 

Por que não podemos viver em paz com nossas crenças ou não crenças?

 

Ari Oro agrega, em diversos textos, a “guerra espiritual” ao racismo, classificando a intolerância em relação às religiões afro-brasileiras como racismo, como uma “recusa do outro em nome da raça” (ORO, 1997, p. 31).

 

O preconceito está muito presente na visão do brasileiro, principalmente quando se trata das religiões de origem africana. Um exemplo clássico disso é a visão que se tem do Vodu, que é visto pelas pessoas como bruxaria ou "coisa maligna".

 

As sutilezas não estão sendo consideradas. Alguém já conceituou com propriedade: "A intolerância religiosa é um conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a crenças e práticas religiosas ou mesmo a quem não segue uma religião. É um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana."Diante deste conceito amplo, poderemos, portanto, resumir como liberdade religiosa:1) O direito de ter uma religião e crer num ser divino). O direito de não ter uma religião e não crer em um ser divino;

 

Vivemos num país rico em manifestações ou melhor dizendo aqui temos quase todas as religões e crenças, e muitos que, por opção, não professam nenhuma. Exemplificando: - A minha religião é A, a sua religião é B e o nosso colega do lado não tem nenhuma religião.

 

Entretanto, este gigante país, de dimensões continentais, Constitucionalmente Laico desde a primeira Constituição da República, ainda permite e tolera que o 3º direito (interpretado à luz do conceito de intolerância religiosa) apontado acima não seja respeitado, pois, apesar de estarmos no século XXI, vivemos ainda sob a égide do Art. 5º da Constituição brasileira de 1824. " Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto domestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma exterior do Templo."Fonte: JusBrasil - Lira M. P.

 

A Constituição do Império de 1824 afirma de forma explícita ser o Brasil um país não laico, como podemos observar na sua dedicatória inicial "EM NOME DA SANTISSIMA TRINDADE."

 

Desde o período Colonial e Imperial do Brasil, observa-se a manutenção de relações diretas entre o poder político e a religião ocidental. O próprio Código Criminal do Império de 1830 punia:“A celebração, propaganda ou culto de confissão religiosa que não fosse a oficial (art. 276)” (SILVA Jr., 2007, p. 308).

 

Este Código punia diretamente os negros, fossem eles escravos, livres ou libertos, visto que uma forma de controlar as suas vidas era impor a cultura ocidental, incluindo a religião judaico-cristã, desconstituindo suas referências culturais africanas.

 

Cadê a liberdade de expressão?

 

No dia 14 de junho de 2015 , uma CRIANÇA, de 11 anos, foi atingida por uma pedra enquanto caminhava de volta para casa, logo após ter saído de um culto de Candomblé, no subúrbio do Rio de Janeiro. Ela estava na companhia da avó, que é mãe de santo, e de outros amigos, quando um grupo seguidor de outra doutrina começou a atacar Kailane e sua turma, não só com pedradas, mas com palavras ofensivas. 

 

 

Respeito. Essa palavrinha teria evitado que Kailane Campos carregasse uma marca para a vida toda (e não estamos falando apenas de uma marca física). Evitaria que, diariamente, pessoas fossem vítimas de preconceito por seguirem uma religião contrária a do agressor ou, até mesmo, por não seguirem religião nenhuma.

 

Ao analisarmos esses casos e levando em conta que os ateus também são vítimas de intolerância, seria crucial a promoção de um maior vigor das autoridades com a Decradi - Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, pois ela é a maior defesa que os afetados tem em mãos. Outra solução, embora seja a longo prazo, seria transmitir através do ensino religioso nas escolas, a aprendizagem das diversas religiões e seus contextos, pois na prática isso ainda não acontece.

 

Nessa perspectiva, torna-se evidente que é nosso dever respeitar as manifestações religiosas decorrentes em nossa sociedade. Afinal, essas religiões fazem parte da nossa identidade cultural e se caso não agirmos de uma forma que busque preservá-las e assegurá-las de seus direitos de atuação, estaremos fragmentando de forma direta a cultura brasileira.

Para saber mais acesse o site: intoleranciareligiosadossie.blogspot.com.br/p/mapa.html

Umbanda:

Tem aproximadamente 100 anos, tem como a base do seu culto os GUIAS como por exemplo caboclos, exus, marinheiros, baianos e etc.

Seus sacerdotes:
- Não jogam Buzios
- Não raspam santo
- Não dão oro para suas entidades
- Não cultuam orixas como Logun Ede, Ossain, Yewa, Ayra, Iroko, etc
- Não assentam em massa os espiritos
- Suas iniciações tratam-se de amacis
- Umbanda eh caridade! Por isso nao cobra nada de seus seguidores, clientes e afins.
- Cultuam 7 linhas e orixas distintos: Oxala, Obaluawe, Ogun, Iansa, Ogun, Xango, Oxossi, Nana e Oxum. Qualquer outro eh BALELA e invensão tais como Egunita, Logunan (?), Oya, Oba, Logun Ede e etc
- Suas dependencias sao conhecidas como Tenda ou Casa.
- Nao tem assentamentos, cultuam seus guias atravez de imagens, guias (colares)
- Existe forte sincretismo com o catolicismo e cristianismo.

Candomble:

tem aproximadamente 500 anos sendo suas bases nos reinos da Africa com mais de 10.000 anos, cultua Orixas, exige iniciações e obrigaçoes (1, 3, 7, 14 e 21 anos apos a feitura).

- Não cultua caboclo, pretos velhos, marinheiros, eres, exus catiço, pomba giras e etc.
- Tem assentamentos distintos, chamados igbas
- Assenta-se Exu orixá
- Suas dependências são conhecidas como Ile, Abassa, Kwe.
- É dividido por nações como Ketu, Angola, Efon, Jeje e etc e axes como Casa Branca, Oxumare, Gantois, TumbaJunssara, Bate Folha, etc
- Cultua mais de 200 orixás africanos
- Suas raízes sao fortemente africanas, utilizando utensílios típicos da Africa, sendo alguns adaptados ao Brasil.
- Faz orô (sacríficios) para suas deidades.
- Para o sacerdócio faz necessário ter tomada todas obrigações até os 7 anos.
- Admite-se a cobrança de valores pelos trabalhos feitos e iniciações.

1.Candomblé Ketu

- Cultua ORIXAS! (Exu, Ogun, Ode, Ossanyn, Omolu, Oxumare, Nana, Xango, Yemonja, Oxum, Oba, Oya, Oxaguyian, Oxala e Oxalufan dentre outros)
- Suas dependências são o ILE ASE ou barracão.
- Em algumas casas adaptadas ao Brasil cultua-se Exus catiços e/ou caboclos.
- Seus sacerdotes sao Babalorixá ou Yalorixá e os noviços ate sete anos conhecidos como yawos.

2. Candomble Angola

- Cultua NKISSIS! (Elegbara, Roximucumbe, Kabila, Mutalanguanje, Caviungo, Matamba, Samba, Lemba entre outros)
- Suas dependências são conhecidas como Abassa
- Em algumas casa cultua-se caboclos e exús e algumas mestrias.
- Seus sacerdotes sao conhecidos como Mameto ti Nkissi, Tatetu ti Nkissi e os noviços de muzenza.

3. Candomblé Jeje

- Cultua VODUNS! (Gu, Sakpata, Bade, Heviosso, Tobossis, Hoho, Dan entre outros)
- Suas dependencias sao conhecidas como Kwe
- Seus sacerdotes sao conhecidos como Dote e Done, Toivoduno ou Noche e os noviços de vondunsis.

Dentro das nações, dentre as três principais citadas acima, temos os axes que são as casas matrizes cituadas geralmente na Bahia como sendo as primeiras naquele tipo de culto, dentre as mais tradicionais temos Gantois, Casa de Oxumare, Pilão de Prata, Bate-Folha, Tumba Junsara, Kwe Seja Hounde, Terreiro de Bogun, Casa das Minas, Casa Branca e etc.

Catimbó

É uma religiao tipica do norte e nordeste do país sendo como principais objetos de culto os mestres e os caboclos, sendo as sete cidades como suas principais direçoes.

- Cultua caboclos e mestres
- Não jogam buzios
- Tem príncipes e princesas os assentamentos de suas divindades
- Nao raspam e nem cultuam orixás. Suas iniciações chamam-se Tombo na Jurema.
- Depende da casa pode ou nao dar orô (sacrificios as suas entidades)
- Não tem exus, pomba giras, baianos, marinheiros e etc

Os africanos e a Inquisição na Europa

 

O A partir de 1444, negro-africanos capturados na costa norte-ocidental da África começaram a ser desembarcados em Portugal para trabalharem nas cidades e nos campos ou serem reexportados para a Espanha e, a seguir, para as Américas. “Em 1535, Nicolau Clenardo registrava a importância da escravidão moura e negro-africana:

 

“Os escravos pulam por toda a parte. Todo o serviço é feito por negros e mouros cativos. Portugal está a abarrotar com essa raça de gente. Estou quase em crer que só em Lisboa há mais escravos e escravas que portugueses de condição…” (in MAESTRI, Mário). 

 

Espanha enviou para o novo mundo centenas de africanos nascidos na Espanha, conhecidos como Ladinos para o novo mundo para trabalhar nas minas. Mas, também na Espanha, onde muitos negros já nasceram em Sevilha e ao mesmo tempo em que, cristianizados, mas haviam conservado o uso das danças da África de suas origens.

 

Os escravos africanos da metrópole portuguesa, condenados por feitiçaria, entre tantos outros, muitos executados pela Inquisição, outros foram degredados para o Brasil. E, sempre acompanhando as idas e vindas, a circulação dos feitiços, principalmente resumidos nas bolsas de mandinga (amuletos), de cuja confecção e comercialização esses escravos africanos eram especialistas, diz Laura de Mello e Souza em seu livro.

Neste conexto em Portugal e Espanha, misturavam-se milenares feitiços pagãos, bíblicos, cabalísticos, cristãos, africanos, que reelaborados pelo cristianismo militante da Inquisição espanhola, demonizando-a, “reinventou” a feiticeira, até as mandingas africanas, nas quais o islamismo também tinha a sua parte. 

Se supusermos que as feiticeiras brancas portuguesas possivelmente as bruxas evorianas cruzaram seus homólogos africanos não só pelas ruas da metrópole, como talvez nos cárceres inquisitoriais, e sabendo que podiam passar por Angola a caminho do degredo para a Terra de Santa Cruz, itinerários que também teriam permitido encontros com outros mirongueiros, os ciganos, igualmente perseguidos pela Inquisição, imagine-se o grau alucinante de trocas mágicas de todas essas vítimas do Poder único da Santa Madre, vítimas detentoras de altos poderes!

 

O nomadismo das feiticeiras ciganas, deve-se acrescentar que, dentro desse processo de “circulação dos seres e das coisas” pela Europa de então, os ciganos conheceram e compartilharam com feiticeiros africanos, uma vez que era grande em Sevilha o número de negros, escravos ou forros, originários da Guiné, comercializados por Lisboa desde fins do século XIV, para trabalharem nas culturas de açúcar andaluzas.

 

Negros esses dos quais muitos já nascidos em Sevilha, confundindo-se com a arraia miúda dos empregos subalternos, eram cristianizados, tendo criado a confraria de Nossa Senhora de los Angeles no bairro de Triana onde coabitavam com mouros e ciganos congregados em torno de sua padroeira Santa Ana que também tinha sua igreja em Triana.

 

Cristãos, embora, se tinham conservado o uso das danças de seu país de origem, provavelmente não teriam esquecido seus dotes mágicos. O Por quê desses misteriosos processos foi se perpetuando a memória dos feitiços e do nome que os encarnavam, é difícil responder.(in Marlyse Meyer, USP, 1996)

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