Itans/Lendas:
I) Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o Orixá tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada. Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou.
II) No inicio dos tempos os pântanos cobriam quase toda a terra. Faziam parte do reino de Nanã Buruquê e ela tomava conta de tudo como boa soberana que era. Quando todos os reinos foram divididos por Olorun e entregues aos orixás uns passaram a adentrar nos domínios dos outros e muitas discórdias passaram a ocorrer. E foi dessa época que surgiu esta lenda. Ogum precisava chegar ao outro lado de um grande pântano, lá havia uma séria confusão ocorrendo e sua presença era solicitada com urgência. Resolveu então atravessar o lodaçal para não perder tempo.
Ao começar a travessia que seria longa e penosa ouviu atrás de si uma voz autoritária: - Volte já para o seu caminho rapaz! - Era Nanã com sua majestosa figura matriarcal que não admitia contrariedades - Para passar por aqui tem que pedir licença! - Como pedir licença? Sou um guerreiro, preciso chegar ao outro lado urgente. Há um povo inteiro que precisa de mim. -Não me interessa o que você é e sua urgência não me diz respeito. Ou pede licença ou não passa. Aprenda a ter consciência do que é respeito ao alheio. Ogum riu com escárnio:
- O que uma velha pode fazer contra alguém jovem e forte como eu? Irei passar e nada me impedirá!
Nanã imediatamente deu ordem para que a lama tragasse Ogum para impedir seu avanço. O barro agitou-se e de repente começou a se transformar em grande redemoinho de água e lama. Ogum teve muita dificuldade para se livrar da força imensa que o sugava. Todos seus músculos retesavam-se com a violência do embate.
Foram longos minutos de uma luta sufocante. Conseguiu sair, no entanto, não conseguiu avançar e sim voltar para a margem. De lá gritou:
-Velha feiticeira, você é forte não nego, porém também tenho poderes. Encherei esse barro que chamas de reino com metais pontiagudos e nem você conseguirá atravessa-lo sem que suas carnes sejam totalmente dilaceradas. E assim fez. O enorme pântano transformou-se em uma floresta de facas e espadas que não permitiriam a passagem de mais ninguém.
Desse dia em diante Nanã aboliu de suas terras o uso de metais de qualquer espécie. Ficou furiosa por perder parte de seu domínio, mas intimamente orgulhava-se de seu trunfo: - Ogum não passou!
O Orixá Nanã é um santo feminino de origem daomeana. É, segundo as lendas, a primeira esposa de Oxalá, tendo com ele três filhos: Iroko, Obaluaiê e Oxumarê.
Mais senhora Nanã, no culto anterior à chegada dos orixás iorubanos à região da atual Nigéria, teria um posto hierárquico semelhante ao de Oxalá - ou até mesmo de Olorum. Na mitologia do Daomé, Nanã às vezes é apresentada como orixá feminino, às vezes como masculino ou até mesmo assexuado, pai (ou mãe) de todas as coisas, seres e orixás.
Nos cultos afro-brasileiros, é apresentada como Orixá indiscutivelmente feminino, primeira mulher de Oxalá (representando a antiguidade da civilização que a cultuava) e associada sempre à maternidade. É, por tudo isso, a mais velha deusa das águas, tendo associações tanto com a morte como com a posição reservada aos velhos em qualquer sociedade. São na cor branca com lista azuis. Dependendo da nação, o seu dia é a segunda-feira, justamente com seu filho Obaluaê; segundo outros são no sábado, ao lado das outras divindades das águas.
O elemento de Nanã é a lama, o lodo fundo dos rios e dos mares em geral. É, por extensão, a deusa dos pântanos, o ponto de contato das águas com a terra, a separação entre o que já havia (água) e o que foi libertado por mando de Olorum (a terra do "saco da criação") - sendo, portanto, sua criação simultânea à da criação do mundo.
O Arquétipo dos Filhos de Nanã:
Nanã Burukú é o arquétipo das pessoas que agem com calma, benevolência, dignidade e gentileza. Das pessoas lentas no cumprimento de seus trabalhos e que julgaram ter a eternidade à sua frente para acabar seus afazeres. Elas gostam das crianças e educam-nas, talvez, com excesso de doçura e mansidão, pois têm tendência a se comportarem com a indulgência dos avós. Agem com segurança e majestade.
A Personalidade dos Filhos de Nanã são bem peculiares, pois uma pessoa que tenha o Orixá Nanã como Orixá de cabeça (mãe no Eledá), pode levar em conta principalmente a figura da avó: carinhosa às vezes até em excesso, levando o conceito de mãe ao exagero, mas também ranzinza, preocupada com detalhes, com forte tendência a sair censurando os outros.
Nanã Buruku
Seus adeptos dançam com a dignidade que convém a uma senhora idosa e respeitável. Seus movimentos lembram uma andar lento e penoso, apoiado num bastão imaginário que os dançarinos, curvados para a frente, parecem puxar para si. Em certos momentos, viram-se para o centro da roda e colocam seus punhos fechados, um sobre o outro, parecendo segurar um bastão, num gesto semelhante ao que vimos em Tchetti, na África.
Quando Nanã Burukú se manifesta numa de suas iniciadas é saudada pelos gritos de “ Salúba!” Fazem-lhe sacrifícios de cabra e galinhas-d´angola, sem utilizar facas, e oferecem-lhe pratos preparados com quiabos, sem azeite, mas bem temperados.