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Mitologia védica (indiana)

 

Os hindus acreditam numa força divina única, mas que assume incontáveis formas. O número de deuses pode ser até maior: talvez um para cada devoto. (RAMAKRISHNA, 1836-1886)

Há cerca de 3500 anos, as comunidades na região do vale do Indo, atual norte da Índia, começaram a organizar um dos sistemas religiosos mais antigos de que temos notícia: o hinduísmo. Suas crenças foram transmitidas oralmente de geração em geração por muitos séculos até serem transcritas nos Vedas[1] (Vedas provém do sânscrito, cuja raiz "vid" significa "conhecer a Sabedoria Divina), por isto os Vedas são traduzidos como Sabedoria Divina ou Suprema, compilação de hinos e preces considerada como o primeiro livro sagrado da história.

 

“A essência da tradição dos Vedas é o respeito aos ancestrais e a vinculação aos deuses”, “Os Vedas são textos ritualísticos, e não uma enciclopédia de procedimentos religiosos”, afirma Carlos Eduardo Barbosa[2], especialista em cultura hindu e professor do Instituto de Cultura Hindu Naradeva Shala, em São Paulo.

 

“Essas condições pautaram e pautam todas as correntes do hinduísmo. Por isso, esses livros são aceitos como textos sagrados por todos os seguidores de todas as correntes”, afirma o cientista da religião Joachim Andrade[3], autor de uma tese de doutorado sobre a cultura hindu.

[1] VEDAS: Primeiros livros do Hinduísmo, surgidos aproximadamente no ano de 1 000 a.C., que aglutinam quatro coletâneas de textos. Dentre eles, destaca-se o Mahabharata, que contém o poema épico Bhagavad Gita (A Canção do Senhor). O conteúdo dos Vedas oscila entre o Monoteísmo (culto a um deus único) e o Politeísmo (culto a diversos deuses).

[2] Mineiro de Juiz de Fora, dedica-se ao estudo das Culturas da Índia desde 1972. Cursou Sânscrito na Universidade de São Paulo. Dá aulas de língua sânscrita e de culturas da Índia para professores de Yoga desde 1982.

[3] ANDRADE, Joachim. Shiva abandona seu trono: destradicionalização da dança hindu e sua difusão no Brasil. Tese (Doutorado em Ciência da Religião) – PUC/SP, 2007.

Para o Hinduísmo, as pessoas possuem um espírito (atman), que é uma força perene e indestrutível. A trajetória desse espírito depende das nossas ações, pois a toda ação corresponde uma reação - Lei do Carma. Enquanto não atingimos a libertação final - chama de moksha -, passamos continuamente por mortes e renascimentos.Os rituais se compõem de dois elementos principais: Darshan, que é a meditação/contemplação da divindade, e o Puja (oferenda).

 

A alimentação vegetariana é um dos pontos essenciais da filosofia hindu. Isso porque é livre da impureza (morte/sangue). As preces são entoadas como cânticos no idioma sânscrito, língua "morta" que deu origem ao hindi. O mantra mais importante é o OM, "sílaba sagrada" que representa o próprio nome de Deus. Foi dele que derivou toda a matéria, neste aspecto, podemos até traçar um paralelo com o gênesis da Bíblia: "E o som se fez carne". Na primeira fase do Hinduísmo, que recebe o nome de Hinduísmo Védico, temos o culto aos deuses tribais.

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Kali
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Durga
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Krishna e Radha
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Dyaus, ou Dyaus-Pitar ("Deus do Céu", em sânscrito), era o deus supremo, consorte da Mãe Terra. Doador da chuva e da fertilidade, ele gerou todos os outros deuses. O Sol (Surya), a Lua (Chandra) e a Aurora (Heos) eram os deuses da luz. Divindades menores e locais são as árvores, as pedras, os rios e o fogo. Na segunda fase do Hinduísmo, que recebe os nomes de Vedanta (fim dos Vedas) ou Hinduísmo Bramânico, ocorre a ascensão de Brahma, a divindade que simboliza a alma universal. Brahma compõe o Trimurti (Trindade) do Hinduísmo.Brahma, Vishnu, Shiva.

 

Neste momento, surge a figura dos brâmanes, que compõem a casta sacerdotal da tradição hindu.A terceira fase: No século 12, a Índia é invadida pelos muçulmanos, e grande parte de sua população é forçada à conversão. Este Hinduísmo híbrido também se divide em várias correntes, cujos expoentes são gurus como Sri Ramakrishna (1834-86), Vivekananda (1863-1902) e Sri Aurobindo (1872-1950).

 

O que essas correntes têm em comum é a preocupação em estender o trabalho espiritual ao âmbito social, por meio de trabalhos filantrópicos e assistenciais.Por força dessa nova fase, a própria organização social da Índia - em sistema de castas, começa a perder o sentido, pois existe um clamor ético por igualdade e solidariedade. O maior mestre do Hinduísmo moderno é Mahatma Gandhi (1869-1948), conhecido no Ocidente como chefe político, mas venerado na Índia como guru espiritual. Gandhi, adepto da Ahimsa (o princípio da não-violência), apregoava a importância do homem exercer perfeito controle sobre si mesmo.

BRAHMA: O O Universo parecia mergulhado num grande sono até que o BRAHMAN* mudou este estado de coisa. Primeiro, fez surgir as “Águas Cósmicas” e nelas depositou uma semente.

 

Com o passar do tempo a semente se transformou num resplandecente “Ovo Dourado”. BRAHMAN, que não tinha forma passou, então, um “Ano Cósmico” dentro do “Ovo Dourado” e dele emergiu na forma de uma divindade. Esse novo deus ganhou o nome de BRAHMA (sem o “N” final) e foi incumbido de uma missão especial:criar o Mundo e suas criaturas. (Seria essa a matriz do Demiurgo referido por Platão?).

 

Mal nasceu, já começou a cumprir sua tarefa. Conta-se que quando o “Ovo” se quebrou, a casca de cima originou a esfera celeste, enquanto que a inferior formou a esfera terrestre. O primeiro ato do Deus Criador foi dar forma ao Céu e, assim, manter as metades separadas.

SHIVA E A DANÇA CÓSMICA - SHIVA NATARAJA: “O rei da Dança”, é uma representação do Shiva como o dançarino cósmico, quem apresenta sua dança divina para destruir o que for necessário no universo.

 A mão direita superior do deus segura um tambor que simboliza o som primordial da criação: a mão esquerda superior sustenta uma língua de chama, o elemento da destruição. O equilíbrio das duas mãos representa o equilíbrio dinâmico entre criação e a destruição do mundo, e a face calma do Dançarino entre as mãos, no qual a polaridade entre criação e destruição é dissolvida e transcendida. A segunda mão direita ergue-se num gesto de proteção e que dissipa o medo.

 

A mão esquerda aponta para baixo para o pé erguido, que simboliza a libertação da fascinação de maya. O deus é representado dançando sobre o corpo de um demônio, símbolo da ignorância do homem, que deve ser destruído como conquista da libertação.

 

Para os físicos modernos, a dança de Shiva é, pois, a dança da matéria subatômica e como na mitologia hindu trata-se de uma contínua dança da criação e destruição, envolvendo a totalidade do cosmos e constituindo a base de toda a existência e de todos os fenômenos naturais. 

 

Fritjof Capra diz que: "a física moderna tem mostrado que o ritmo de criação e destruição não só é manifesto na virada das estações e no nascimento e morte de todas as criaturas vivas, mas também é a própria essência da matéria inorgânica, "e que" Para os físicos modernos, então, a dança de Shiva é a dança da matéria subatômica". Capra concluiu: “A metáfora da dança cósmica, assim, unifica mitologia antiga, arte sacra e da física moderna"

VISHNU: Na grande trindade hindu, Vishnu representa a proteção e preservação, uma força de equilíbrio entre o ato de criação de Brahma e a propensão de Shiva à destruição literal e figurativa.

 

O hinduísmo ensina que há forças equivalentes do bem e do mal na Terra, e que, ocasionalmente, o mal ganha uma vantagem exigindo que Vishnu assuma uma forma humana e restaure o equilíbrio.

 

Sempre que a humanidade precisa de ajuda, esse deus benévolo aparece na Terra como um avatar ou reencarnação. Sua última encarnação foi como Krishna. É o equivalente hindu do Cristo Cósmico e do Osíris egípcio. Acredita-se que a décima e última encarnação, conhecida como Kalki, se manifestará em uma data futura e destruirá o mundo corrompido, para inaugurar uma era de ouro.

SHIVA: O destruidor ou transformador. Um dos dois deuses mais poderosos do hinduísmo. Shiva é o destruidor, que destrói para construir algo novo, motivo pelo quais muitos o chamam de "renovador" ou "transformador". Shiva é o criador do Yoga, ele tem a capacidade de transformar para revelar a essência de tudo o que vive.

 

Na mitologia hindu, Shiva é o destruidor do orgulho e da ignorância. As primeiras representações surgiram no período Neolítico (em torno de 4000 a.C.) Apresenta-se de várias formas: o extremado asceta, o matador de demônios envolvido por serpentes e com uma coroa de crânios na cabeça, o senhor da criação a dançar num círculo de fogo ou o símbolo masculino da fertilidade. Mais que os outros deuses é uma mistura de cultos, mitos e deuses que vêem desde a pré-história da Índia.

 

O tridente que aparece nas ilustrações de Shiva é o trishula símbolo de seu poder. É com essa arma que ele destrói a ignorância nos seres humanos. Ele também representa o instrumento de punição aos seres maléficos em todos os três planos (espiritual, sutil, e físico). Suas três pontas representam as três qualidades dos fenômenos: tamas (a inércia), rajas (o movimento) e sattva (o equilíbrio). Shiva, já trabalha com a coletividade das almas que colocando o plano em prática, que devem estar atuando e servindo umas às outras. Shiva é considerado um Deus da fertilidade.

 

Assim, a união de Shiva com sua shakti Parvati, é representada pelo Linga (o falo) junto com a Yoni (o útero), o que representa a abolição da dualidade. A Serpente Naja e muito retratada ao redor do pescoço e da cintura do Senhor Shiva, simboliza que Shiva dominou a morte e tornou-se imortal. Ele nos traz o ensinamento sobre o controle dos nossos impulsos espirituais, mentais, emocionais e físicos.

 

É Shiva quem nos ajuda a destruir as nossas más criações e a de nossos irmãos que estejam atuando contra nós. Shiva é o mensageiro intermediário entre nós e Brahman. Assim, nada sobe ao Pai a não ser através dele.

GANESH, GANAPATI OU GANESHA. O símbolo mais importante de Sri Ganesha diz respeito ao fato de que Ele deve ser descoberto como a Divindade no interior de si mesmo. É filho de Shiva e Parvati. É cultuado como deus da sabedoria, da superação dos obstáculos e da prosperidade. Sua ajuda deve ser solicitada na execução de qualquer projeto, especialmente naqueles de natureza intelectual, material ou profissional.

 

A barriga grande indica que Ganesha já digeriu o conhecimento e os obstáculos. Por isso ele é conhecido como o removedor de obstáculos. A machadinha é também para levar o homem para o caminho da verdade e da retidão.

 

Em geral aparece perto de um rato (Mushika ou Akhu) também representa o ego, a mente com todos os nossos desejos, e o orgulho individual. Assim, ele é também um símbolo da ignorância que domina a escuridão e teme a luz do conhecimento.

 

Ganesha cavalga o ratinho, tornando-se mestre e não escravo daquelas tendências; indicando, também, o poder do intelecto e das faculdades de discernimento como superiores à mente. Está sempre presente nas portas dos templos e residências porque é tido como um removedor de obstáculos.

 

KRISHNA: O Amor Puro. Reencarnação de Vishnu, Krishna é um dos mais conhecidos avatares. É um dos principais nomes de Deus e significa “o todo atraente”. Ele é infinitamente misericordioso. Ele é o beneficiário de todos os sacrifícios e austeridades. Dono de uma beleza física sem igual, ele veio à Terra para combater as sombras, há pelo menos 5200 anos, trazendo consigo mensagens de amor.

Um dia Devaki caiu em um êxtase mais profundo. Ouviu uma música celeste, como um oceano de harpas e de vozes divinas, e de repente o céu se abriu em abismos de luz. ela foi chamada pelos mestres que lhe disseram: “A vontade dos Devas se cumpriu”.... Tu concebeste na pureza do coração, e no amor divino-virgem e mãe, te saudamos.... Um filho nascerá de ti que será o salvador do mundo.

 

Krishna é o maior Deus não ariano no panteão Hindu. Ele foi a oitava encarnação de Vishnu, o Preservador do Universo. Ele incorporou a forma humana para redimir as ações das forças do mal.

PARVATI (ou Mahadevi): Esposa de Shiva, com amor, afastou Shiva de seu ascetismo. Parvati é a mãe dos deuses e, de Ganesha e Skanda (Kartikeya). É a deusa do poder.

 

Representa a unidade do deus e da deusa, do homem e da mulher. Ela é a única que dá a energia vital (ou “Shakti”) para todos os seres e sem ela, todos os seres são inertes.

 

O casal são muitas vezes descrito nos Puranas como envolvidos no “flerte”, ou discutindo conceitos abstratos em teologia hindu. Ocasionalmente, eles são retratados como brigas. Parvati era constantemente representada com seios nus como usando um cordão sagrado até a invasão muçulmana no século XII.

 

Seios nus eram considerados uma marca da Divina Mãe na Índia antiga. Roupas simbolizavam o corpo e os anexos terrestres, enquanto que a nudez era indicativo da divindade sem restrições. Segundo o Dicionário Iconográfico das religiões indianas por Gosta Leibert, Ela carrega um rosário, espelho em suas mãos.

 

DURGA: Outra manifestação de Shakti, Durga é a própria Parvati. Aqui, porém, ela assume a postura de uma guerreira. Durga é a divina mãe que derrota todos os males e tem o poder de matar os demônios. Como os deuses estavam sendo derrotados, eles combinaram seus poderes divinos e criaram Shakti – o aspecto feminino de deus – na forma da jovem e bela deusa Durga.

 

Cada deus concedeu a Durga a sua arma mais poderosa.Durga veste roupas vermelhas. A cor vermelha simboliza ação. Sua aplicação na vestimenta indica que Durga está sempre ocupada destruindo o mal e protegendo da dor e sofrimento.

 

O tigre simboliza a força ilimitada. Durga montando um tigre indica sua força ilimitada, seu poder de proteção da virtude e destruição do mal.Os dezoito braços de Durga significam a força combinada das nove encarnações do deus Vishnu (que apareceu na terra em diferentes tempos no passado).

 

O som que emana da concha é o som sagrado da sílaba AUM, que é o som da criação. Uma concha em uma das mãos de Durga significa a última vitória da virtude sobre o mal e do certo sobre o errado.

 

As armas nas mãos de Durga passam a ideia de que apenas um tipo de arma não é suficiente para a destruição de todos os tipos de inimigos. Por exemplo, orgulho precisa ser destruído pela humildade, o egoísmo pelo desapego e o prejuízo pelo auto-conhecimento.

 

É considerada como a protetora dos ciganos na ìndia.

 

KALI: Uma das manifestações irada da deusa Durga esposa de Shiva. Kali é a Mãe Negra, a deusa da morte, (transformações) representada por uma mulher de pele escura e quatro braços. Durga assume a forma de Kali para lutar e vencer o demônio Raktabhija, que tinha o poder de renascer de cada gota de sangue que dele caísse ao chão. Kali, com sua língua enorme, bebeu todas as gotas de sangue antes que elas alcançassem o solo.

 

No nono dia de intensa batalha, ela consegue aniquilar todo o exército e, no décimo, num dia de lua cheia, ela, finalmente, mata-o. É vista como uma deusa da morte. Mas, na realidade, trata-se da morte do ego humano. Kali é mostrada matando espíritos demoníacos. Algumas vezes ela tem cobras enroladas em seus vários braços e no pescoço. E outras um colar de caveiras, seminua, usando apenas uma saia feita de braços humanos. A serpente é um antigo símbolo da sabedoria e iniciação.

 

Uma coisa muito peculiar em Kali é que ela é a única divindade Feminina que possui poder sobre Shiva.A deusa que tradicionalmente é homenageada com um sacrifício de sangue. Os animais ainda são sacrificados em sua honra, especialmente em Calcutá, a cidade com o nome da deusa "Kali Ghat".

 

Por ela, quando os muçulmanos dominaram a Índia, os ciganos partiram em direção ao mundo como andarilhos eternos, com a marca de Kali nos olhos de tudo ver, nas mãos de fazer magia, com a marca de Kali na vida flutuante. "Kali dá a vida e pode matar", acreditam os ciganos.

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