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Itan de Exu/Esù 

Exú causa confusão

 

Havia uma estrada que dividia duas fazendas, cujos fazendeiros eram amigos. Certa vez passou um homem por essa estrada, que sobre a cabeça usava um vistoso chapéu. Ao final do dia, os fazendeiros comentaram o fato. Um deles disse: “Viram o homem de chapéu preto?” E o outro: “Preto? O chapéu era vermelho como sangue!”. E passaram a discutir. Sem que um conseguisse convencer o outro, acusaram-se mutuamente de mentirosos. Juntou gente para ver o tumúlto. Já estavam nas vias de fato quando lá de cima do morro grita o tal homem: “Parem de brigar, estúpidos! Era eu quem usava o chapéu. Ele somente provou aos fazendeiros que se tivessem confiado um na palavra do outro teriam decifrado a verdade. Numa saudável lição de humildade, Exú devolveu aos homens sua própria torpeza. Eis um de seus muitos atributos. Por isso se afirma que ele é neutro e habita o ponto de equilíbrio entre o Céu e a Terra. (in Pierre Vergé)

 

Eu sou Exú, e gosto de causar confusão!”  Exu não é a confusão mas lida com os confundidos. Exu não é vaidoso mais lida com nossa vaidade. Exu é o senhor da ilusão, não porque ele gera a ilusão ou estimula a ilusão e sim porque esgota nossa vaidade e a nossa ilusão em acreditar que realmente compreendemos o seu mistério ao ponto de estabelecer uma verdade.

 

Nessa lenda Exu está a dizer: Não se apegue aos detalhes, pois cada um na sua forma de enxergar a vida (lado) visualizou parte da cor do meu chapéu (mistério) no qual não permito conhecer por inteiro e só em parte. Porém deixaram que sua vaidade em querer a primazia sobre a verdade absoluta sobre meu mistério (chapéu) gerassem guerra e violência em meu nome. E Exu terminou dizendo: os tolos sempre se apegam a detalhes, mas os sábios em silêncio, se elevam e buscam um olhar de cima (elevado) para aí sim descrever um mistério. 

 

 

Exu Ganha a encruzilhada

 

Exú o grande senhor que demarca principalmente os territórios utilizados por nós em seus caminhos, ganhou poder sobre a encruzilhada. Exú não tinha riqueza, não tinha fazenda, Exú não tinha rio, não tinha profissão, nem artes, nem missão. Exú vagava pelo mundo sem paradeiro, então um dia, Exú passou a ir à casa de Oxalá. Ia à casa de Oxalá todos os dias.

 

Lá, Exú se distraía vendo o bom velhinho fabricando os seres humanos. Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá, mas ali ficavam pouco, 4 dias, 8 dias e nada aprendiam. Traziam oferendas, ciam o velho Orixá, apreciavam sua obra e partiam. Exú ficou na casa de Oxalá 16 anos. Exú prestava muita atenção na modelagem e aprendeu como Oxalá fabricava as mãos, os pés, a boca, os olhos, os pênis dos homens, as mãos, os pés, a boca, os olhos, a vagina das mulheres.

 

Exú não perguntava, Exú observava. Exú prestava atenção. Exú aprendeu tudo.Um dia, Oxalá disse a Exú para ir portar-se na encruzilhada por onde passavam os que vinham a sua casa, para ficar ali e não deixar passar quem não trouxesse uma oferenda. Cada vez havia mais humanos para Oxalá fazer, e Oxalá não queria perder tempo recolhendo os presentes que todos lhe ofereciam. Oxalá nem tinha tempo para as visitas. Exú tinha aprendido tudo e agora podia ajudar Oxalá.

 

Exú coletava os ebós para Oxalá, recebia as oferendas e as entregava. Exú fazia bem o seu trabalho e Oxalá então decidiu compensá-lo e assim quem viesse à casa de Oxalá, teria que pagar também alguma coisa a Exú. E Exú mantinha-se sempre apostos guardando a casa de Oxalá, armado de um ogó, um poderoso porrete, afastando os indesejáveis e punia quem tentasse burlar sua vigilância. Exú trabalhava demais e fez ali a sua casa, ali na encruzilhada, ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, sua casa. Exú ficou rico e poderoso. Ninguém pôde mais passar sem pagar alguma coisa a Exú.

 

Ensinamento: Neste itan, extraímos a existência da obrigatoriedade de ter a sua casa de Exú em toda casa de axé. Primeira plantação, primeira casa a ser feita. Pequena, grande, simples, luxuosa, enfim, dependendo das condições de quem tem esse axé. Mas com certeza, nenhum cliente chega até a uma mesa de jogo, nenhum cliente chega até uma casa de axé, se a casa de Exú não estiver construída, se Exú não estiver recebendo as oferendas, as homenagens devidas por ele merecidas, por estar trazendo as pessoas, encaminhando as pessoas até a casa de axé.

 

Exu atrapalha-se com as palavras

 

No começo dos tempos estava tudo em formação, lentamente os modos de vida na Terra forma sendo organizados, mas havia muito a ser feito. Toda vez que Orunmilá vinha do Orum para ver as coisas do Aiê, era interrogado pelos orixás, humanos e animais, ainda não fora determinado qual o lugar para cada criatura e Orunmilá ocupou-se dessa tarefa. Exu propôs que todos os problemas fossem resolvidos ordenadamente, ele sugeriu a Orunmilá que a todo orixá, humano e criatura da floresta fosse apresentada uma questão simples para a qual eles deveriam dar resposta direta, anatureza da resposta individual de cada um determinaria seu destino e seu modo de viver, Orunmilá aceitou a sugestão de Exu.

 

E assim, de acordo com as respostas que as criaturas davam, elas recebiam um modo de vida de Orunmilá, uma missão, enquanto isso acontecia, Exu, travesso que era, pensava em como poderia confundir Orunmilá. Orunmilá perguntou a um homem: "Escolhes viver dentro ou fora?". "Dentro", o homem respondeu, e Orunmilá decretou que doravante todos os humanos viveriam em casas. De repente, Orunmilá se dirigiu a Exu: "E tu, Exu? Dentro ou fora?". Exu levou um susto ao ser chamado repentinamente, ocupado que estava em pensar sobre como passar a perna em Orunmilá, e rápido respondeu: "Ora! Fora, é claro", mas logo se corrigiu: "Não, pelo contrário, dentro", Orunmilá entendeu que Exu estava querendo criar confusão, falou pois que agiria conforme a primeira resposta de Exu, disse: "Doravante vais viver fora e não dentro de casa". E assim tem sido desde então, Exu vive a céu aberto, na passagem, ou na trilha, ou nos campos, diferentemente das imagens dos outros orixás, que são mantidas dentro das casas e dos templos, toda vez que os humanos fazem uma imagem de Exu ela é mantida fora.

 

Exú causa confusão em fazendeiros

 

Havia uma estrada que dividia quatro fazendas, cujos fazendeiros eram amigos. Certa vez passou um homem por essa estrada, que sobre a cabeça usava um vistoso chapéu. Ao final do dia, os fazendeiros comentaram o fato. Um deles disse: “Viram o homem de chapéu preto?” E o outro: “Preto? O chapéu era azul!”. E o terceiro: “São cegos? O chapéu era verde!”. E o último: “Vocês estão loucos, eu vi bem e o chapéu era vermelho como sangue!”. E passaram a discutir. Sem que um conseguisse convencer o outro, acusaram-se mutuamente de mentirosos.

 

Juntou gente para ver o tumúlto. Já estavam nas vias de fato quando lá de trás grita o tal homem: “Parem de brigar, estúpidos! Era eu quem usava o chapéu. Eu sou Exú, e gosto de causar confusão!” Ele somente provou aos fazendeiros que se tivessem confiado um na palavra do outro teriam decifrado a verdade. Numa saudável lição de humildade, Exú devolveu aos homens sua própria torpeza. Eis um de seus muitos atributos. Por isso se afirma que ele é neutro e habita o ponto de equilíbrio entre o Céu e a Terra. (in Pierre Vergé)

Exu/Esù 

 

 

É o princípio dinâmico da expansão (evolução), agente de ligação, princípio do nascimento de seres humanos, princípio da reparação (causa/efeito). Exerce o papel de propulsor do desenvolvimento, de mobilizador, de fazer crescer, de ligar, de unir o que está separado, de transformar, de comunicar e de carregar. Todos os Orixás necessitam de suas forças, pois ele está ligado à evolução e ao destino de cada um. Exú é o primeiro que se serve e se cultua, é o Senhor, o decano de todos os elementos.

 

Exu é um Orixá de temperamento vivo e brincalhão. Exu também é conhecido por possuir um voraz apetite sexual. Seu símbolo é o ogó (bastão com cabaças que representa o falo). Exu é astuto como a serpente, e por todos esses motivos, os primeiros Cristãos a contactar com os povos Africanos, encararam esta divindade, (representada um falo humano ereto, simbolizando a fertilidade e sexualidade), como a encarnação de Satanás junto dos povos africanos.

 

É o senhor dos caminhos, caminhos que levam e trazem e fazem as pessoas se encontrarem ou distanciarem-se. É quem faz com que os ritos sejam cumpridos, principal responsável pela ligação do mundo espiritual ao mundo material,( orun- ayé).

 

Entre dois caminhos lá está ele guardando, indicando. Não se faz nada pelo candomblé antes de agradar Esù, pois é o único orixá que faz o elo de ligação entre nós e os demais orixás. Esù é um orixá tão importante quanto todos os outros orixas. Por ser mais ligado com o mundo terrestre, possui certos costumes e temperamentos parecidos com os dos seres humanos.

 

Por ser um orixá que cuida dos caminhos onde percorrem homens, orixás, espíritos, etc. e sendo o elo de ligação entre esses mundos, ele possui múltiplos contraditórios, sendo bom e mau, astuto, grosseiro, indecente, protetor, alegre, brincalhão, violento, etc. Ou seja, é o orixá mais humanizado do panteão, pois em seus arquétipos incluem-se as impurezas causadas ou existente nos homens.

 

Contudo, essa divindade é representada como mestre das palavras (comunicação), Exu fala todas as línguas e permite a comunicação, entre os orixás e os homens, guardião das aldeias, das cidades, das casas, do axé e do comportamento humano, culto e dono de grande sabedoria, grande conhecedor da natureza humana e dos assuntos mundanos.

 

O preceito segundo o qual Exú sempre recebe oferenda antes das demais divindades serem propiciadas, e que nada mais representa que o pagamento adiantado que Exú deve ganhar para levar as oferendas aos outros deuses, acabou sendo bastante desvirtuado. Exú é pago para não atrapalhar, transformou-se num empecilho, num estorvo, num embaraço. Como se não bastasse, é tido como aquele que se vende por um prato de farofa e um copo de aguardente.

 

DIA: Segunda-feira.

CORES: Preto (ou seja, a fusão das cores primárias) e vermelho.

SÍMBOLOS: Ogó de forma fálica, falo erecto.

ELEMENTOS: Terra e fogo.

DOMÍNIOS: Sexo, magia, união, poder e transformação.

SAUDAÇÃO: Laroiê!

 

Foi sem dúvida o processo de cristianização de Oxalá e outros orixás que empurrou Exú para o domínio do inferno católico, que faltava evidentemente preencher o lado satânico do esquema deus-diabo, bem-mal, salvação-perdição, céu-inferno, e quem melhor que Exú para o papel do demônio? 


Transfigurado no diabo, Exú teve que passar por algumas mudanças para se adequar ao contexto cultural brasileiro hegemonicamente católico. Apesar das imagens de Exus, fazerem referência ao "Diabo" medieval (herança do Sincretismo religioso). 


Os negros africanos em suas danças nas senzalas, nas quais os brancos achavam que eram a forma deles saudarem os santos, incorporavam alguns Exus, com seu brado e jeito maroto e extrovertido, assustavam os brancos que se afastavam ou agrediam os médiuns dizendo que eles estavam possuídos por demônios. 


Com o passar do tempo, os brancos tomaram conhecimento dos sacrifícios que os negros ofereciam a Exu, o que reafirmou sua hipótese de que essa forma de incorporação era devido a demônios.

Mensageiro dos Orixás, ele é o primogênito do universo no mito da gênesis dos elementos cósmicos. É o resultado da integração água e terra, masculino e feminino, sendo o terceiro elemento. Cultuado entre os Orixás, apenas por seu intermédio é possível adorar as Yabás-Mi (as feiticeiras). 

 

Traçar e abrir caminhos é uma das suas principais atividades, pois ele circula livremente entre todos os elementos do sistema. É o princípio da comunicação. 

Arquétipos: Os filhos de Esù possuem um caráter imprevisível ora são bravos, intrigantes e ficam muito contrariados, ora são pessoas inteligentes e compreensivas com os problemas dos outros, são pessoas cheias de vitalidade, dinâmicas. Gostam de resolver problemas quando sabem que serão bem recompensados embora pareçam desligados e despreocupados.

 

Estão sempre atentos, fiscalizam tudo e se intrometem aonde não deve. São provocadores e uns tremendo leva e traz. No entanto, não recusam ajuda aos amigos nem a quem lhes pede, e resolvem tanto os problemas financeiros quanto os amorosos.

 

Segundo os estudiosos, a marca da personalidade dos filhos de Exú é essa oscilação entre o bem e o mal. São capazes de serem bons conselheiros, principalmente se houver uma recompensa para suas ações. Alguns estudos revelam que os filhos de Exu são do tipo que carregam fardos (pesos), como se nessa vida sofressem pelos erros cometidos em vidas passadas. Os filhos de Exú entram e saem ilesos de qualquer confusão, a tempo de se divertir, observando as consequências.

Fontes: 

Mariabessem, Lendas, Mistérios e Curiosidades da Religião Afro.

Pierre Verger,  Lendas africanas dos Orixás.

Roberto Rodrigues, Programa Tambores da Liberdade, IRDEB.

O africano conta itans (histórias) para explicar diversas situações, principalmente as situações que interagem as energias dos Orixás e seus poderes e domínios. Lendas são recursos humanos que descrevem de forma alegórica as qualidades, atributos e atribuições das divindades e dos seres divinos, humanizados por nós, os únicos seres que podem humaniza-los, pois nós fomos qualificados por Deus com essa natureza a humana. Lendas ou mitologias servem antes de tudo para descrever de forma alegórica o que de forma puramente científica seria impossível de ser descrito e introduzido como conhecimento de massa sobre Deus e suas qualidades divinas ou divindades. Humanizar uma divindade ou uma qualidade divina, é tornar concreto algo abstrato, é tornar tangível algo intangível, e é fundamentar algo subjetivo, tendo em vista que uma realidade divina é uma realidade puramente mental ou acessada única e exclusivamente através dos sentidos.
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