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Antigamente, as ciganas costumavam ser consideradas bruxas. Em 1427 o bispo de Paris mandou excomungar todos os parisienses que tinham consultado as ciganas.

 

Bruxas, ciganos, magia...

 

 

Percebemos que a visão sobre o cigano ainda não mudou. A imagem cigana, quando apresentada em programas de televisão, minisséries e documentários disponibilizados em nossas redes midiáticas, colocam o cigano sempre numa postura folclorizada, com roupas coloridas, homens com panos da cabeça e mulheres sensualizadas. Esses estereótipos são aceitos pelo grande público, mas o cigano que vive nas periferias, em barracas rotas, e que se utiliza de suas artimanhas como comerciante é completamente rechaçado. O cigano real torna-se perigoso e fere a boa conduta da civilização.

Évora é cidade contadora de histórias. As ruas revelam uma monumentalidade construída ao longo de milhares de anos por diferentes civilizações que ali foram chegando desde a antiguidade. Para os celtas, foi Ebora.

 

 

Muitas obras artísticas foram utilizadas para desqualificar os ciganos e aumentar o preconceito. Podemos citar a dramaturgia, como em A Farsa das Ciganas, de Gil Vicente, encenada pela primeira vez em 1521 ao rei d. João III, na cidade de Évora: a peça mostra as ciganas (Martina, Cassandra, Lucrécia e Giralda) como trapaceiras, embusteiras e bruxas que viviam de ler a sorte.

CIGANA ESMERALDA

 

Évora é cidade contadora de histórias. As ruas revelam uma monumentalidade construída ao longo de milhares de anos por diferentes civilizações que ali foram chegando desde a antiguidade. Para os celtas, foi Ebora.

 

Esmeralda é natural de Évora, em Portugal. Uma das histórias virou tema de teatros e filmes em Paris, com o nome “O corcunda de Notre Dame”, afinal, quem não conhece a historia da cigana Esmeralda que defendeu o corcunda da inquisição?

 

A história conta a vida de um homem Coxo e Deformado que foi adotado pelo arcediago (encarregado, da administração de uma parte da diocese) Claudio Frollo. O menino deficiente então, batizado de Quasímodo, enfrenta uma série de problemas por conta de um amor não correspondido por uma linda Cigana chamada Esmeralda.

 

Esmeralda é uma personagem cigana que representa uma beleza surreal, que faz com que dois homens, Quasimodo e Claudio Frollo se apaixonem por ela. Ela aparece na história, prestes a ser executada, a mando do próprio Rei francês Luis XI, acusada de feitiçaria e assassinato. Como a França era uma país altamente xenofóbica, tal fato, contribuiu para que a pobre cigana fosse condenada a morte.

 

Protetora da fartura de alimentos, é feiticeira de comida, das que fazem feitiços que são comidos, para vários tipos de objetivos. Viajou por toda Europa, aprendendo pratos e aperfeiçoando suas magias.

 

História de Ciganos Famosos

Outra obra que colaborou com a imagem depreciativa e até perigosa dos ciganos foi o romance Carmen (1847), de Prosper Mérimée, que inspirou Georges Bizet para produzir uma ópera com o mesmo nome, estreada em 1875. O trágico romance ambientado em Sevilha, na Espanha, entre Dom José e a cigana Carmem, segue comovendo gerações.

 

 

Cigana Carmen

 

A ópera foi baseada em um pequeno romance, de mesmo título, de Prosper Mérimée (1845), inspirado nos escritos de Georges Henry Borrow, um inglês que viveu entre os ciganos espanhóis.

 

Após ler a história original, Bizet decidiu tranformá-la em ópera. Acostumado com histórias ditas “edificantes”, o público ficou incomodado com aquele espetáculo singular, no qual uma cigana desprovida de qualquer moral, sem a menor sombra de remorso ou piedade, enfeitiçava e levava os homens à perdição. Em vez de final feliz, um assassinato em cena.

 

Em “Cartas de Espanha”, do próprio Mérimée, ele revela que o nome da protagonista surgiu de uma jovem, Carmencita, a que faz mençao na quarta carta (“As Bruxas Espanholas”), que lhe serviu comida em uma venda de Murviedro (antigo nome de Sagunto, em Valência); era cigana, jogadora de cartas de adivinhaçao e de “rara beleza”. As cores sao importantes para o argumento, e algumas delas se repetem muito: Carmen é o vermelho e o negro, José o amarelo. Traduzida ao espanhol em 1891, quarenta e seis anos após a publicaçao, em um século em que o coletivo social ainda aceitava a opressao como um benéficio, a novela foi mal recebida pelos espanhóis, considerada insultante ao tratar de seres marginalizados, o que nao é verdade, os costumes relatados sao fiéis, frutos de rigorosa pesquisa, observaçao e conhecimento.

 

A ópera conta a história da sedutora Carmen, que afasta Don José de sua noiva Micaela, dando início a uma confusa e trágica trama de amor. Carmen é uma música tão peculiar quanto o enredo, e por essa razão foi motivo de muita controvérsia.

Quando estreou foi um escândalo. Na noite de 3 de março de 1875, a platéia presente à Opéra-Comique de Paris saiu chocada com a peça. Acostumado com histórias ditas “edificantes”, o público ficou incomodado com aquele espetáculo singular, no qual uma cigana desprovida de qualquer moral, sem a menor sombra de remorso ou piedade, enfeitiçava e levava os homens à perdição. Em vez de final feliz, um assassinato em cena. 

 

Em Sevilha na Espanha do séc XIX. Carmen é uma cigana que trabalha numa fábrica de cigarros. Sua beleza quente seduz os homens especialmente o inocente soldado Don José que se torna completamente obcecado.Por esse amor, ele perde a farda e torna-se o amante até o ponto de fazer parte de um bando de contrabandistas, amigos da bela cigana. Pela liberdade de amar, Carmen acaba deixando o pobre amante para ficar com um famoso toureador. O soldado enfeitiçado então é tomado por um acesso de ira e ciúme.

 A obra literária, e a nossa cigana de Bizet há uma explosao de sensações, nao há como nao se sentir atraído por uma mulher que preferiu morrer a deixar de ser livre e dona do seu desejo e da sua vontade.

"O amor é um pássaro rebelde que ninguém pode aprisionar..."

"[o amor] não adianta chamá-lo, pois ele só vem quando quer."

"... e quando pensa tê-lo aprisionado ele se vai."

"Tu crês prendê-lo; ele te evita. Crês evitá-lo; ele te prende."

"Se não me amares, eu te amarei. Mas... se eu te amar, cuidado!"

"O meu coração é livre como um pássaro!""Quem quer a minha alma? Ela está livre!"

"Não tenho medo de nada. Carmen nunca cederá! Nasceu livre e livre morrerá!"

Na novela original, Carmen invoca D. Maria de Padilla: "O mesmo D. José surpreende Carmen executando magias, mexendo pedaços de chumbo num alguidar cheio d’água, cantando “canções mágicas que invocavam Maria Padilla, que fora, diziam, a "Bari Crallisa, a grande rainha dos ciganos”.

 

A literatura romântica francesa e a ópera popular, que a partir dela se desenvolveu, divulgariam, por todo o mundo, as belas “feiticeiras” ciganas andaluzas, tendo Prosper Mérimée, o autor de Carmem, não apenas incluído uma nota em sua novela a propósito de Marie Padilla. 

(in Maria Padilla: Melodrama em 3 actos com musica de DONIZETTI,  Lisboa: de P. A. Borges, 1845)  Fonte: AUGRAS. Monique R. María Padilla,reina de la magia. Revista Española de Antropología.

Na história D. Maria de Padilla de Castella, declarada Rainha em 1362, pelo rei D. Pedro I de Castela e pelas autoridades católicas de Sevilha, diz a história que ela teria transformado em cobra venenosa um cinto dado de presente a primeira esposa, a D. Pedro, com a ajuda de um feiticeiro judeu (Ros, 2003). No romanceiro, o mal é a feitiçaria, que seria praticada, sobretudo, pelos judeus, relativamente bem tolerados anteriormente e que seriam perseguidos por Henrique II e seus descendentes, até Isabel, a Católica, que os expulsaria da Espanha. O romancero viejo (“romances históricos” ) espanhol se espalha pela península ibérica, que, de 1580 a 1640. A Inquisição em Portugal e na Espanha deixou registradas invocações de “feiticeiras” a “Maria Padilha com toda sua quadrilha” 

Hoje, em Sevilha, o nome de D. Maria de Padilla designa um importante rua. A placa que aparece encontra-se no muro da Universidade de Sevilha, onde funcionou a antiga fabrica de tabacos, na qual trabalhava a famosa personagem de Merimee Carmen. (in AUGRAS. Monique R. María Padilla, reina de la magia. Revista Española de Antropología)

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